Quando o rádio estava ligado era sinal de que todos deveriam ficar quietos e esperar que ele jantasse. O caçula, um guri de aproximadamente cinco anos, era o mais amendrotado, afinal ,sem saber o porque, apavanhava quase todos os dias. Eram surras de "tirar bicho", ele chorava agarrado a mãe que também apavanhava em solidariedade.
_ Onde já se viu filho de caboclo nascer de zóio azul e cabelo vermelho. Essa presepada de ser neto de "holandeis" não cola, tu me botou um par de chifres nor cornos sua diaba!
O rádio falava sobre a construção de nova cidade nos confins do Goiás. O próprio presidente estava por lá, recebendo de braços abertos todos o s braços nescessários para erguer o novo eldorado.
_ Cê ouviu mulher, onde tem obra peão não passa fome, a gente vai pra lá no fim da quinzena, já pedi as conta pro patrão. Ele ficou triste, mas disse que era pra seguir nosso rumo em paz.
Ela quase não ouvia, só pensava. As crianças morrendo de fome...
Voltou no tempo, tinha quinze anos. Mal tinha se formado, era moça. Seu pai ao ver suas formas desabrochando tratou de "inicia-la" e vendê-la ao primeiro que apareceu. O vestido da primeira comunhão serviu,apesar da barriga.Ela se casou em troca de um saco de farinha e dois bodes. Ao se despedir da mãe, chorou!
E chorando ouvia o marido falar nessa tal Brasilia que seria construida.As crianças, ela pensava, o que sera delas?
_ Mulher, ce ta meio aluada hoje, a comida ta com um gosto estranho?
Não demorou muito o veneno fez efeito. Formicida, foi o que falaram no vilarejo por muitos anos. A mulher matou o marido com veneno e fugiu rumo ao desconhecido. Uns dizem que enricou la pelas bandas do Maranhão vendendo picolés e sorvetes com a ajuda dos filhos.
Durante muito tempo os homens da cidade antes de comer em casa davam um pouco pros vira latas experimentarem.